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Leonor
falara uma única vez com Rita. Conhecera-a casualmente numa festa há uns anos
atrás. Tinham alguns amigos em comum, pouco mais. Nunca passaram de conhecidas.
Nunca foram amigas, longe disso. Com o passar do tempo, a distância entre as
duas nunca parou de crescer até se tornar inultrapassável. Mais tarde, por ter
perdido o namorado para ela, Leonor nem conseguia sequer olhar para ela quanto
mais falar-lhe.
E
hoje, por ironia do destino ou talvez nem por isso, aqui estava ela. Sozinha,
sentada num dos melhores recantos do jardim, de olhar perdido num livro a que
parecia estar a prestar atenção nenhuma. Leonor despedira-se das amigas há uns
bons dez minutos. Ficara ali, naquela parte do jardim a observá-la. O seu dia
feliz ficava para segundo plano. Olhava de longe para ela e sentia-se a recuar
no tempo. Rita parecia esforçar-se demasiadamente em estar normal quando a sua
tristeza saltava à vista. Por impulso, decidiu falar-lhe. Não pensou bem no que
ia fazer. Simplesmente foi até lá. Não hesitou. Saiu do seu recanto calmo e sentou-se
sem pedir, na cadeira vaga em frente a Rita.
“Estás
bem, Rita?”
“O
que é que isso te importa?”
“Não
gosto de ver ninguém a sofrer...”
“Estás
enganada. Eu estou bem. Muito bem, até.”
“Rita,
não precisas de mentir. Eu vejo nos teus olhos.”
“Nota-se
assim tanto?”
“É
claro como água, rapariga.”
Do
nada, Rita precisou como nunca de uma verdadeira amiga. Sentia-o e não o podia
negar. E Leonor era a única pessoa que ela conhecia naquele lugar. Vagamente, é
certo. Mas era um rosto conhecido. O desabafo surgiu sem aviso e surpreendeu-a
com a rapidez com que encontrou as palavras certas.
“Acabei
tudo com o João. Tenho a sensação que hoje perdi parte do coração.”
“Ele
fez-te alguma coisa?”
“Não
é isso. Ele é maravilhoso. Eu é que não o consigo amar. Eu tentei, a sério que
tentei mas não consigo sentir nada por ele.”
“Se
não o amas foi melhor assim.”
“Mas
dói tanto, sabes?”
“É
claro que sei. Sei tão bem o que isso é.”
“Desculpa
estar a falar contigo sobre isto. Não te faltam razões para me odiares.”
“Eu
não te odeio, Rita. Longe disso. Já fiz as pazes com o meu passado.”
“Que
bom. Nem sabes como me faz bem ouvir-te dizer isso.”
“Amigas?”
“Estás
a falar a sério, Leonor?”
“No
que toca aos sentimentos eu falo sempre a sério. A vida é demasiado curta para
perder tempo com dramas. Quero muito ser tua amiga, Rita.”
“Leonor…
tiras-me um peso de cima do coração. Claro que sim. Amigas. Estou mesmo a
precisar de uma amiga. Sinto-me tão só ultimamente.”
A
sinceridade das palavras de Rita apanhou Leonor de surpresa, deixando-a de
coração pesado.
“Então
e o Rafael? Não tens estado com ele?”
“Tenho,
claro. Eu adoro-o mas não consigo falar destas coisas com ele. Somos amigos mas
ele é também o meu ex-namorado.”
“E
o meu também. Percebo-te. Não dá para falar disto com ele. Era estranho. Toca a
animar, Rita. Agora podes contar comigo para tudo o que precisares.”
“Obrigada.
Já não se fazem pessoas como tu, Leonor.”
“Bebemos
um café? Pago eu.”
“Obrigada.
Agora percebo porque é que o Rafael tem sempre aquele brilho no olhar quando fala
em ti.”
“Rita,
nós somos só amigos. Bons amigos.”
“Tu
ainda tens sentimentos por ele, não tens?”
“Vê-se
assim tão bem?”
“Essas
coisas não se conseguem esconder.”
“Sabes,
eu amei-o tanto. Isso não se esquece facilmente…”
“E
eu sou a culpada por tudo o que vos aconteceu.”
“Achas
mesmo? Rita, a nossa relação não funcionou. Ele nunca conseguiu corresponder ao
que eu sentia por ele. Foi melhor assim. Enfim… eu agora tenho namorado novo.”
“E
não dizias nada? Detalhes, Leonor. Conta-me tudo.”
Leonor
sorriu novamente. A felicidade regressava ao seu coração. Estava a ser um dia
perfeito. Ganhara uma amiga verdadeira. Rita. Que se tornaria em breve a sua
melhor amiga.
Os amigos verdadeiros conhecem-nos melhor que, por vezes família.
ResponderEliminarAmei a historia.
Feliz 2016
Beijo e uma excelente semana.
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
É uma grande verdade, Cidália. Obrigado!
EliminarBeijinho e um excelente 2016!
A vida é curta para fazer dramas e ter ressentimentos. Gostei.
ResponderEliminarÉ mesmo! Obrigado.
EliminarSempre um prazer viajar nos seus apeadeiros
ResponderEliminarBj
Obrigado, Mar Arável.
EliminarBjs
Dar uma nova oportunidade é sempre bom e assim se dá início à construção de uma amizade sã e verdadeira, apesar da derrocada! Com o tempo veremos e aguardarei, mas acho que nos vais dar mais algumas surpresas.
ResponderEliminarAbraços
Concordo contigo. Aqui, neste caso, foi o que a Leonor quis fazer. Não sei se haverá mais surpresas na relação da Leonor e da Rita.
EliminarAbraços
Adorei!
ResponderEliminarVeremos para saber se realmente Rita é uma amiga com A.
Eu teria que esperar mais tempo e com calma ver se merecia a minha amizade.
Beijinhos.
Provavelmente será :)
EliminarAinda bem que gostaste.
Beijinhos
Gostei deste desenvolvimento :)
ResponderEliminarbeijinho
Que bom, Gábi :)
EliminarBeijinho
Quando a química não acontece não vale a pena forçar.
ResponderEliminarAquele abraço
É verdade. Sem química, não interessa continuar a relação.
EliminarAquele abraço