terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Amor e Outras Coisas (Final)

Seis Meses depois…

“O tempo cura todas as feridas… mesmo as que nos parecem impossíveis.”

A frase pertencia à sua melhor amiga, Leonor, que não mais saíra da sua vida. Rafael e Leonor rapidamente recuperaram a sua amizade perdida o que fizera maravilhas na vida dos dois amigos.

Rafael sentia-se bem consigo próprio. Não havia mais segredos na sua vida e sabia o que se passava à sua volta. Deixara de fora da sua vida quem tinha de deixar e esclarecera tudo com quem faltava. Hoje, sabia quem eram as pessoas mais importantes da sua vida. Deixara de ter aquela pressa em ser feliz pois sempre o fora mesmo nos momentos mais complicados. Seguira o coração e nada mais fizera tanto sentido como essa decisão tão simples.

Era sábado de manhã e saíra de casa bem cedo para correr. No caminho encontrara um pequeno mercado de rua dedicado ao jazz, um género de música que o ia conquistando de dia para dia. O ambiente era convidativo, a pessoas pareciam genuinamente felizes ao som que ecoava tranquilamente neste recanto da cidade. Rafael deixou-se ficar. Estava encantado com o que ouvia, com as pessoas e com o aroma a felicidade que era impossível não notar. 

Deu por si sentado, a desfrutar daquela música sem mais preocupações na alma. Reparou que algumas pessoas escutavam a música de olhos fechados, fascinadas com os sons que as envolviam. Rafael perguntou a si mesmo se aquele não seria um dos lugares mais felizes da cidade naquele momento. Parecia que sim, que o tempo tinha parado e as preocupações ficado temporariamente à porta. Andando um pouco mais adiante encontrou o local perfeito para desfrutar do ambiente harmonioso que aqui se vivia.

Uma esplanada banhada pelo sol que o convenceu a instalar-se imediatamente. Sentou-se, pediu um café e deixou-se estar. Ao seu lado estava uma bela rapariga também acompanhada com o seu café já bebido. Se Rafael fosse um pintor encarregado de lhe pintar o retrato, já tinha um esboço perfeito na sua mente. Olhos castanhos, cabelos ruivos, encaracolados e de sorriso fácil. Um instante depois os seus olhares cruzaram-se. Não eram as únicas pessoas na esplanada mas por momentos pareciam ser.

Tudo nela fazia sentido e mexia com ele. Nos últimos meses decidira fechar o coração à chave. Aproveitou para reorganizar a sua vida e para colocar os pensamentos em ordem. Não namorava ninguém há exactamente seis meses. Sentia-se bem assim, solteiro. Ao mesmo tempo que voltava a dirigir atenções para a música que tocava, não resistiu a um novo olhar na direcção dela. Sentia uma vontade irresistível de falar com ela mas não sabia se havia espaço para isso. Sentiu-se tentado a avançar mas não a conhecia e não queria incomodá-la.

Ela tinha um sorriso lindo e o lugar na sua mesa estava vago. Ela olhou para o lugar deserto na mesa de Rafael e voltou a sorrir. Ele sorriu e percebeu que isso era um sinal positivo, o que o deixou com o coração em alvoroço. Respirou fundo e viu que ela se aproximava da sua mesa.

"Posso sentar-me aqui contigo?", começou ela.

“Claro que sim. A música ouve-se ainda melhor a partir daqui. Estava mesmo a pensar em convidar-te para te juntares a mim.”

"E eu ali a olhar disfarçadamente para ti e a pensar se estavas à espera de alguém ou não."

"Não, não estou à espera de ninguém. No fundo, se calhar estive sempre à espera de encontrar alguém mas não sabia quem. Que bom que aqui estás. Eu sou o Rafael.”

“Eu sou a Clara. E estou feliz por aqui estar contigo. Vens aqui muitas vezes, Rafael?”

“É a primeira vez que aqui venho.”

“Eu venho todas as semanas. Sinto-me muito bem aqui.”

Ao som do jazz e de novos sons que ambos foram descobrindo nasceu uma faísca já de si imprevisível que despertou dois corações. O de Rafael e o de Clara. Conversaram durante duas horas. Estavam cada vez mais próximos um do outro. Estar com ela parecia fácil. Não havia receios ou barreiras. Rafael sentia-se tranquilo mas também entusiasmado. Ansioso mas também feliz.

Clara perguntou-lhe se a namorada dele gostava de jazz. Rafael contou-lhe a verdade, o que a deixou com um brilho no olhar. 

"Eu saí há pouco de uma relação. Ele traiu-me, não havia mais nada a fazer."

"Lamento muito, Clara."

"Não lamentes. Eu já o conhecia. Sabia no que me estava a meter. E agora, estou aqui. Estou mesmo feliz por te ter descoberto."

"E eu não trocava momento algum por este tempo aqui contigo."

Não trocaram palavra alguma nos momentos seguintes. O sabor dos lábios um do outro eram um fascínio difícil de explicar, aliás como todos os sentimentos que ambos estavam a sentir. Rafael queria Clara e ela só o queria a ele. A música continuava a tocar no seu ritmo leve e solto e os dois estavam cada vez mais próximos. Descobriam, aos poucos, as suas essências, ao ritmo dos beijos e das mãos que descobriam os recantos mais suaves de cada um.

Passara mais uma meia hora feliz naquele recanto da cidade que transpirava felicidade por todos os poros.

Clara contemplou Rafael e pensou no que lhe queria dizer. Queria voltar a vê-lo, com toda a certeza. O seu coração não lhe perdoaria se não o fizesse.

"Por mim, ficava aqui o dia todo contigo mas preciso de ir. Quero ver-te novamente, Rafael, quero muito."
"Queres jantar comigo mais logo?”
"Adorava. Amava conhecer-te melhor."
“E eu a ti, Clara. Mal posso esperar por estar contigo."

Beijaram-se novamente. O mesmo sentimento voltou a invadi-los. Rafael deixou-se estar mais um pouco ao som do jazz. Clara, ficou mais uns minutos também.

Rafael e Clara. Não fazia qualquer sentido, pensava ele. "Acabei de a conhecer." Porém, poucas coisas na sua vida alguma vez fizeram tanto sentido como este descobrir de Clara e dos seus sentimentos por ela. Despediram-se com um beijo de agitar corações e com um brilho diferente no olhar. A ansiedade que cada um sentia por rever o outro era indisfarçável.

Clara e Rafael percorreram os seus caminhos sabendo que este dia trouxera a descoberta de algo especial, de algo único que poderia mudar as suas vidas. O destino, esse, estava nas suas mãos e sorria-lhes como talvez nunca o fizera antes.


FIM

5 comentários:

  1. Ora bem, nada como deixar assentar a poeira da derrocada do passado, seguir em frente que o destino encarregar-se-à de humanizar os corações:)

    Gostei imenso desta tua história, pela realidade das emoções, tricas e dicas tão comuns em qualquer ser humano!

    Obrigado!

    Beijos e um bom dia

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  2. Lindo, como sempre!

    Beijo e um dia feliz

    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  3. Gosto de amores que começam com aquele clic especial...

    Adorei o conto!

    Beijinhos.

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  4. Engraçado ainda hoje tinha pensado em quando e como iria terminar a história. O Rafael teve sorte em aparecer-lhe a Clara.
    Gostei da história.
    um beijinho
    Gábi

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