terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Amor e Outras Coisas (capítulo dez)

Amor e Outras Coisas (capítulo um)
Amor e Outras Coisas (capítulo dois)
Amor e Outras Coisas (capítulo três)
Amor e Outras Coisas (capítulo quatro)
Amor e Outras Coisas (capítulo cinco)
Amor e Outras Coisas (capítulo seis)
Amor e Outras Coisas (capítulo sete)
Amor e Outras Coisas (capítulo oito)
Amor e Outras Coisas (capítulo nove)


Era domingo de manhã. Chovia a cântaros lá fora e ela até há dois minutos dormia tranquilamente. O regresso de Rafael ao seu mundo era um dos seus muitos motivos para ser feliz. Acordou apenas com o som de uma mensagem no telefone. Ainda com o pensamento longe, decidiu ver de quem era. Não conhecia o número mas bastou ler as primeiras linhas para saber de quem se tratava. Teve vontade de atirar o telefone contra a parede mas conteve-se. Não ia adiantar nada e só lhe ia acrescentar uma despesa. Era melhor aceitar o encontro. Escreveu a mensagem de volta com simplicidade e sem emoção. Não estava a contar com esta mudança de planos. Fosse o que fosse, teria de ser rápido, pois ela tinha uma vida para viver. Recebeu, segundos depois, a resposta. Estava tudo combinado. 

Suspirou... Chovia como nunca lá fora.

Merda. Aceitaste porquê? Tens que aprender a dizer não, Leonor. Tens mesmo”, Dizia para si própria.

Como queria, chegou primeiro. Escolheu uma mesa com vista para a rua e decidiu encomendar o seu pequeno-almoço. Ela não demorou muito, apenas dez minutos depois lá estava ela. Trocaram um cumprimento curto e educado. Leonor olhou para ela com intensidade. À sua frente estava, nada mais nada menos que Mariana, a mesma Mariana que pensava um dia ter sido sua amiga. A história que lhe ia contando estava longe de a surpreender. Rafael já lhe contara em detalhe o seu encontro com ela e a mágoa que lhe ia no coração.

Infelizmente tudo agora fazia sentido. As críticas, as indirectas, os conselhos e as ironias mascaradas pelos sorrisos. Mariana tinha-a enganado bem. Nunca fora verdadeiramente sua amiga e se alguma vez o fora, qualquer vestígio desse sentimento desapareceu quando Leonor começou a namorar Rafael há três anos atrás.

Agora, tê-la, do outro lado da mesa, supostamente apaixonada pelo seu melhor amigo, deixava-a fora de si.

“Não dizes nada?”, quis saber Mariana.
“Que queres que te diga? Que estou feliz por estar aqui? Que não dormia mais uma hora? Que acredito em ti? Que tens o meu apoio? Só podes estar a brincar comigo.”

“Não percebes, Leonor? Eu estou apaixonada por ele. Será que ninguém percebe isso?”
“É claro que não percebo.” Leonor moderou o seu tom de voz que espelhava a sua indignação. “Tens cá uma lata de inventar esta história toda depois de tudo o que nos fizeste.”

“Mas é a verdade...”

“Não sejas parva...” cortou Leonor de forma áspera. “Depois de lhe contares quem eras e o que aconteceu no passado, esperavas o quê? Compreensão? Amor? Que ele te corresse para os braços?”
“Eu mudei, Leonor. Estou cansada de o dizer. Quando é que vão acreditar em mim?”

“Eu nunca vou acreditar em ti. O que fizeste para me separar do Rafa foi horrível. As mentiras, as intrigas… basta!”

“Também nunca esperei que percebesses. Tu sempre foste a mais perfeita. Os rapazes olhavam sempre mais para ti. Foi preciso aparecer a Rita para te roubar o Rafael. Doeu, não? Aposto que sim.”

“Mariana chega. Nunca te tomei como tão invejosa. Céus. Como é que nunca percebi como eras? É melhor ires-te embora. Agora.”
“É melhor. O ar está irrespirável. Contigo esteve sempre. Não preciso de ti para nada, sua falsa. Vou mas é à procura do Rafael.”
“Vais passar um mau bocado se não deixares o meu amigo em paz. Duvido que ele queira alguma coisa contigo.”
“A ver vamos...”

“Eu avisei-te. Depois não te queixes.”
“Adeus, Leonor. Obrigada por nada.”
“Vai-te embora, já.”
“Com todo o prazer.”

A porta da cafetaria bateu com estrondo, causando alguns olhares chocados mas o mau ambiente mantinha-se teimosamente. Leonor levantou-se e pediu mais um café para levar para o caminho. Precisava de sair dali. Pagou a sua conta e saiu para o dia gélido que a esperava lá fora. Soube-lhe bem… Precisava de respirar.

Imaginou uma vida sem Mariana. A sua relação com Rafael poderia ter seguido outro rumo. Ainda podia estar com ele. Afastou essa ideia do pensamento e fechou os olhos por poucos instantes. Inspirou fundo e recordou a conversa com Mariana. Perdera uma amiga. Mas será que ela alguma vez teria sido sua amiga?

O coração dizia-lhe que não.

17 comentários:

  1. Uiiiii tens aí uma frase que me tocou particularmente por ser tão verdade, que encaixou na perfeição num meu familiar directo que tenho e há muito posto na prteleira dos "monos"..." As críticas, as indirectas, os conselhos e as ironias mascaradas pelos sorrisos".

    Sinceramente Carpe esta parte não gostei, porque jamais em tempo algum e daria "tempo de antena" a alguém que à partida sabia que tinha sido tão má. Pergunto a mim mesma se valeu a pena Leonor aceitar e ouvir (que não ouviu nada) a Mariana, que grita que mudou, que ninguém acredita nela! Perda de tempo, pode-se mudar em muita coisa, mas jamais na essência do "eu" o tal "nim" escarrapachado nas trombas de cada um:). Não sei se me fiz entender...e como tal aguardo pela continuação.

    Beijos e um bom dia

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    1. Tudo bem, Fatyly, não se pode apreciar tudo :) Está tudo bem!
      Beijinhos e obrigado pelas palavras

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  2. "Mas será que ela alguma vez teria sido sua amiga?"

    Uma dúvida para o resto da vida.
    Abraço

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    1. Não será propriamente uma dúvida. A Leonor ficou com a certeza de quem a Mariana realmente era.
      Abraço

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  3. Sendo assim, não sei se era sua amiga!!
    Gostei

    Beijos e um dia feliz.
    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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    1. Não, era tudo menos amiga dela. Que bom que gostou, Cidália.
      Beijinhos

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  4. Por tudo isso eu divido as pessoas com quem me dou em:
    conhecidas e amigas. Apenas tenho 2 AMIGAS!

    O teu texto é prova disso...Mariana e Leonor eram simples conhecidas.

    Beijinhos.

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    1. É isso. Os verdadeiros amigos são poucos. E há ocasiões em que se vê quem verdadeiramente conta. A Mariana não contava.
      Beijinhos

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  5. Ainda hoje comentava com um amigo (este é mesmo amigo!) que para ter "amigos" destes mais vale estar quieto.
    Aquele abraço

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    1. É bem verdade, Pedro. Com amigos destes o melhor a fazer é distância!
      Abraço

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  6. Ó Carpe, essa,Mariana era uma peste das boas!:)
    Temo pela saúde mental do pobre Rafael, é que o pobrezinho não sabe para que lado se há-de virar.:)
    Sempre quero ver como "descalças essa bota". Ou muito me engano ou ainda alguma vai ter um triste fim.
    Continua, estou a gostar.:)
    A Leonor e a Rita entendem-se bem? Aguardemos!

    Beijinho

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    1. GL, era mesmo uma peste! Nunca me enganou :)
      O Rafael ficará o melhor possível. Vamos ver!
      Obrigado pelas palavras,
      Beijinhos

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  7. Fui reler o que já tinha lido, e com estes desenvolvimentos não estou a gostar lá muito do Rafael, Leonor, Rita, Mariana, parece que não sabe o que quer...seria bom se aparecesse por exemplo um Daniel para ficar com a Leonor... Mas está-me a interessar, vou ficar à espera do próximo capítulo.
    um beijinho e uma boa semana
    Gábi

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  8. E quando vem o próximo capítulo? Quero saber com quem vai ficar a Leonor!
    um beijinho
    Gábi

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    1. Olá Gábi, a história regressa neste novo ano. Em breve publico os últimos dois capítulos.
      Beijinho

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